“NATURE’S LAY IDIOT”1
o lamento da concha
Fosse eu pérola cintilante eu lhes diria
que vocês humanos existem porque a terra
assim como o caule bambo tem suas pétalas
quis desenvolver uma linguagem e ser cantada.
Fosse eu mais que tudo dura e fria diria que a linguagem
vocês a desenvolveram para se virar melhor:
poder trocar coisas entre si
fazer negócios e fofocar.
É simplesmente prático
poder dizer: Não desça dessa árvore
senão você pode ser comido!
Esse lado meu pode ser rude
e é verdade que ele não é maleável
que me mantenho em minha postura.
Ao mesmo tempo pareço uma carne rosa tão refrescante
pareço uma boca e um lábio
há algo em mim que não mantém a forma
que não quer fixar os pensamentos
em um quadradinho fechado.
Porém me lembro do seguinte:
Vocês aprendiam a criar. Vocês tinham consciência.
Para que a terra pudesse se ver a si mesma e
se transformar em seu próprio olhar.
Certamente vocês muitas vezes eram bons em se entender.
Ao mesmo tempo: tão ruins eram em escutar
sobre o que falavam seus poemas –
amor
morte.
Vocês tinham a linguagem.
Vocês aprenderam a desfrutar.
Vocês aprenderam até (pois é)
a manter seus afazeres eróticos
dentro de certas formas e não
como os outros animais meio em qualquer lugar.
Mesmo assim agora lamento
eu que no meu íntimo ainda me preencho de seus sussurros
que vocês
e através de vocês a terra
aprenderam a maior das artes
pode-se dizer até
que vocês se ergueram de sua linearidade fúnebre
e se tornaram cíclicos como as árvores e as plantas
quando depositaram sua espiritualidade na linguagem.
Mas mesmo assim. Com que frequência não seduziram
com a arte do amor que aprenderam
um espelho
com palavras falsas.
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“NATURE’S LAY IDIOT”
havssnäckans klagan
Vore jag skimrande pärlemor skulle jag säga
att ni människor blev till för att jorden
så som den rangliga stjälken har sina kronblad
ville utveckla ett språk och besjungas.
Vore jag mest bara hård och sval sa jag att språket
det utvecklade ni för att klara er bättre:
kunna byta saker med varandra
göra affärer och skvallra.
Det är helt enkelt praktiskt
att kunna säga: Stanna här uppe i trädet
annars blir du kanske uppäten!
Denna sida av mig må vara krass
och det är sant att den inte är formbar
att jag står fast vid min hållning.
Samtidigt liknar jag ju så läskande rosa kött
liknar en mun och en läpp
det finns något i mig som inte håller formen
som inte vill nagla fast tankarna
på en bestämd liten plätt.
Dock minns jag följande:
Ni lärde er skapa. Ni hade medvetande.
Så att jorden kunde se sig själv och
förvandla sig själv i sin egen blick.
Säkert var ni ofta bra på att förstå er själva.
Samtidigt: så dåliga ni var på att höra
vad era dikter handlade om –
kärlek
död.
Ni hade språket.
Ni lärde er njuta.
Ni lärde er till och med (nåja)
att sköta era erotiska förehavanden
under vissa former och inte som
de andra djuren lite varstans.
Ändå begråter jag nu
jag som i mitt inre ännu uppfylls av ert sus
att ni
och genom er jorden
lärde den högsta av konster
man kan till och med säga
att ni reste er ur er sorgbundna linjäritet
och blev cykliska likt träden och växterna
då ni förlade er andlighet till språket.
Men ändå. Hur ofta förförde ni inte
med den kärlekskonst ni lärt er
en spegel
med falska ord.
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Poeta e obra
Linnea Axelsson é uma poeta sami-sueca nascida em Jokkmokk, na região norte da Suécia. Estreou na poesia com Ædnan (2018), uma epopeia lírica que narra a história das várias gerações de duas famílias Sami, dos anos 1900 até hoje. Único povo indígena da Europa — o território Sápmi coincide com áreas da Noruega, Suécia, Finlândia e Rússia — os Sami tem sua história marcada pela luta pela manutenção de suas terras, modos de vida, línguas e memórias. O poema acima é retirado do poemário mais recente de Axelsson: Sjaunja (2024). O nome vem de uma área pantanosa do norte da Suécia, uma das maiores reservas naturais do país, onde povos Sami até algumas décadas atrás estabeleciam suas vilas com as características criações de renas. O eu-lírico destes poemas retorna a esse território hoje desabitado por humanos, mas povoado de animais, vegetais e memórias das gerações mais antigas. Sua voz se mistura à de três entidades da mitologia Sami — as deusas Uksáhkká, Sáráhkka e Juoksáhkká — e da própria natureza. A língua sueca se mistura à língua Sami e reflete sobre o que cada uma delas permite expressar. A obra poética de Axelsson, tanto em Ædnan quanto em Sjaunja, é um belíssimo exercício na escrita de corpos-território. A temática gira em torno de como as memórias dos humanos são herdadas através das gerações e com elas se movem geograficamente; mas, ao mesmo tempo, impregnam os territórios por onde passam, assim como são impregnadas por eles.
- Título retirado de um poema de John Donne, que significa algo como “o tolo/leigo/bobo da natureza”. ↩︎
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